O crescimento do MMA no Brasil é evidente. Desde o primeiro UFC realizado em nossas terras, em agosto de 2011, o esporte vem se popularizando estrondosamente.A mistura de artes marciais se torna, a cada dia, assunto de bar, escola, trabalho, assim como sempre foi o futebol.
Curioso, me inseri no momento e comecei a acompanhar o esporte. Minha primeira luta que vi pela TV foi de Anderson Silva, no UFC Rio (UFC 134) - o brasileiro nocauteou Yushin Okami no primeiro round.
Esse ano o Rio de Janeiro foi sede de uma nova edição, que tive o privilégio de presenciar ao vivo e em cores. O "Spider", junto ao Minotauro e outros não menos importantes, lutaram, e com vitórias. Bastou para me apaixonar.
As justificativas que me dão ao renegar essa mistura de artes marcias, no entanto, são diversas: "são só caras dando soco um no outro"; "isso não é esporte"; "não tem nenhuma regra, o cara pode ser morto lá dentro".
Enganam-se. O esporte é MUITO mais que isso. Dias, meses antes de uma luta, há uma preparação intensa e extremamente pesada para algo que pode acabar em uma fração de segundo, com um soco ou um chute nocauteador, por exemplo.
E tive a honra de presenciar isso de perto. Há cerca de 4 meses entrei em uma academia de lutas na região de Perdizes, com o intuito de conhecer mais as artes marciais, com a prática do Jiu-Jitsu. Foi algo de se impressionar o quanto me dei bem com a turma de lá; desde o mestre geral e sua esposa, o meu professor e claro, faixa preta, os alunos, faixas brancas, marrons, roxas... mas havia um que estava na faixa azul prestes a ser graduado com quem me identifiquei muito.
Ele era, além de graduado no Jiu-Jitsu, professor de Muay-Thai. Em um de nossos primeiros encontros, percebi a primeira coisa em comum: torcia para o Corinthians. E esse dia foi justamente o de minha viagem para Buenos Aires; discutimos, elaboramos táticas para a partida, contei como havia conseguido o tão sonhado bilhete, etc.
Seu nome é Bruno Murata. Já lutava Muay-Thai profissionalmente, era um kickboxer de primeira linha, mas estrearia no MMA dali alguns meses, partindo do ponto de vista de nosso primeiro encontro.
Ele estava, mais do que ninguém, determinado a vencer esse embate. E vitórias não vem ao acaso, ou por sorte: são necessárias muitas gotas de suor derramadas nos rostos dos atletas antes da hora da entrada no octógono. A ralação é pesada.
Murata, no ápice de sua preparação, treinava em três períodos. No último deles, à noite, praticava jiu-jitsu comigo. Foi ali que nossa parceria se intensificou. Nos conhecemos melhor e, hoje em dia, me dou ao luxo de dizer que criamos um laço de amizade.
E é evidente que não poderia deixar de estar presente em sua luta. Me programei mais cedo do que o costume. Avisei meu pai, lembrei-o diversas vezes:"dia 20 de outubro, pai, tem a luta do Murata! Não esquece!". A ansiedade era, confesso, maior do que a de estar presente para ver ao vivo as renomadas lendas do MMA.
E essa euforia foi plenamente justificada - a viagem também, tendo em vista que seu combate fora em Campinas, a alguns quilômetros de São Paulo.
Sua entrada fez homenagem a um primo falecido no ano anterior, que, me contou Murata, morava com ele durante uma época de sua vida. A música que se fez ouvir pela platéia foi "Essa é pra você primo", do Emicida.
Ato nobre de uma pessoa que, ao meu ponto de vista, valoriza muito sua família. Além da canção na entrada, tem duas tatuagens em nome de seus pais, e o seu primeiro abraço pós-vitória foi dado justamente em seu irmão e sua prima.
Ele é realmente uma pessoa muito querida por todos; muitos da academia viajaram para o ver assistir, e o grito da torcida juntava-se em um só, a seu favor. Seu adversário deve ter ficado intimidado só com a quantidade de gente que compareceu.
Iniciemos, portanto, a luta. Murata, muito tranquilo, dominou o centro do octógono durante o primeiro round inteiro. Seu oponente era capoeirista e foi lá se aventurar com alguns chutes. Nada que o abalasse.
Murata dava a impressão de o que ele estava fazendo era algo fácil, tranquilo, que qualquer um podia executar com perfeição. Mas estava muito longe disso...
No segundo round, fez jus a sua faixa de cor roxa que lhe foi entregue dias antes da luta e, após uma joelhada certeira na boca do estômago, finalizou seu adversário com um bonito katagame.
A comemoração foi explosiva e contagiante.
Admito, fiquei com os olhos marejados. Me senti parte daquilo que estava acontecendo no momento...
E faço outra confissão: trocaria 15 lutas do UFC por momentos como esse.
Valeu a pena... como valeu.
Murata: eu, o pessoal da academia, SEU PRIMO... todos estamos muito orgulhosos de você... você foi merecedor disso que está lhe acontecendo. Pode desfrutar porque você é guerreiro! E dia 16 de dezembro tem mais! Junto com o título do Coringão! Esse texto, embora simples, foi escrito em homenagem exclusivamente a você, porque, repito: VOCÊ MERECE!
ATUALIZAÇÃO DO POST: Acabo de descobrir que, com o dinheiro de sua luta, Murata mandou seus pais para uma viagem ao Nordeste, algo que vinha planejando faz tempo. Me disse ainda que é a segunda viagem de avião de sua mãe... nem sei mais o que dizer. Com algumas palavras, algumas atitudes e alguns socos, ele me faz ficar de olhos inchados de água. Sem palavras!