Menino simpático, repleto de
valores familiares, simples no seu jeito de ser e educadíssimo. Menino
perfeito, certo? Errado. Alan Fonteles, quando ainda era criança, se viu obrigado a amputar as suas duas pernas devido a uma infecção e passou a conviver o resto da sua vida com próteses mecânicas - não que para ser perfeito seja necessário ter as duas pernas.
Presume-se, logo, que sua vida está arruinada, certo? Errado novamente. O garoto de
boníssima índole enfiou em sua cabeça que iria trazer medalhas para o Brasil no
atletismo, não importasse como. Batalhou duro para isso, mas acabou com o
resultado que queria.
Em 2008, ganhou a medalha de prata no revezamento e nesse
ano bateu a lenda Oscar Pistorius nos 200m T44(classe para atletas amputados) ,
em uma histórica arrancada. Na prova, assim como em sua vida, saiu lá de trás, do
buraco, para a primeira posição. Não só venceu a prova: superando todas as
dificuldades, venceu na vida.
E como se não bastasse, o sucesso não lhe subiu à cabeça. Muito simpático,
como sempre, me respondeu a 7 perguntas muito interessantes, por telefone:
- Você ganhou nos 200 metros do Oscar Pistorius, considerado o Usain Bolt paralímpico. É um feito e tanto... Como é viver com essa nova condição de ídolo?
É uma sensação de realização, dever cumprido. Eu treinei muito para isso, me deixa realmente muito feliz. Passa pela minha cabeça a condição que eu tinha desde criança, a dificuldade,mas vejo que hoje tudo valeu a pena. Estar representando bem o meu país é uma sensação muito boa.
- Os 200m são mesmo a sua especialidade? No mundial do ano que vem, na França, pretende fazer as mesmas três provas de Londres ou focar só nos 200m?
A minha especialidade é os 200m, mas vou sempre arriscar as 3 provas. Quero me especializar também nos 400m.
- Na infância e adolescência você teve dificuldades em conseguir boas próteses?
Tive sim... o meu primeiro patrocínio e a ajuda vieram apenas em 2008... foi muito complicado, mas graças a Deus agora está dando tudo certo e estou tendo o apoio necessário.
- Como explicar o fato de o Brasil ir melhor na Paralimpíada do que na Olimpíada?
Eu não sei exatamente o porquê, mas o Brasil paralímpico tem uma delegação de atletas muito bons e o investimento também está crescendo cada vez mais. Tenho certeza que os atletas olímpicos, assim como nós, vão para fazer o seu melhor.
- Atletas paralímpicos não gostam de ser vistos com olhar de compaixão. Querem ser tratados pelas vitórias e não pelas deficiências. É assim mesmo?
Sim, é isso mesmo, o esporte paralimpico é um esporte de honra. A gente treina e se dedica muito, não queremos ser vistos como coitados .Somos atletas profissionais em busca do nosso melhor.
- O esporte paralímpico brasileiro recebe as verbas e cuidados que merece?
Mesmo com as dificuldades normais dos atletas, o esporte paralímpico está crescendo muito e tenho certeza que só tende a melhorar a partir de 2016, quando receberemos os jogos.
- Seus objetivos para 2016, quais são? Pretende seguir os passos de Pistorius e participar também das Olimpíadas?
Em 2016 o meu foco será apenas as paralímpiadas. Depois penso nessa possibilidade, mas o que eu pretendo é participar do Troféu Brasil no ano que vem.