A prova mais nobre do atletismo, a corrida de 100m rasos, durou em Londres exatos 9,62 segundos, vencida por Usain Bolt. O lema de Londres (“Viva como se fosse único”) justifica: foram talvez os mais intensos dias vividos pela capital britânica nos últimos anos. Já dizia o ditado: coisas boas passam rápido.E como passam... Desde a cerimônia de abertura, passando pelo histórico 5 de julho, quando o Team GB (de Grã Bretanha) conquistou 6 medalhas de ouro, atravessando as conquistas do jamaicano e do recorde de medalhas ultrapassado por Michael Phelps, se deram apenas 15 dias, fantásticos 15 dias.
De tudo aconteceu nessa quinzena: emoções, sentimentos saltando à flor da pele, derrotas, tristezas; porém não faltaram vitórias.Novecentas e vinte e oito medalhas foram entregues, sendo elas 301 de ouro, 301 de prata e 326 de bronze. Das 301 douradas, apenas 3 foram destinadas a atletas ou equipes brasileiras.
Quem teve a honra de subir ao lugar mais alto do pódio foram Sarah Menezes, na categoria ligeiro do judô; Arthur Zanetti na ginástica artística(argolas); e a seleção de vôlei feminina. Foi um desempenho aquém do esperado, mas justificável em alguns aspectos. O Brasil nunca foi uma potência olímpica e ainda está longe de ser. Embora a delegação brasileira tenha ido a Londres com nomes com técnica de sobra, ainda falta um trabalho psicológico para que mais medalhas venham. Casos como o de Diego Hipólito, ginasta sempre franco favorito ao ouro, e Fabiana Murer, campeã mundial e pan-americana, mas que assim como seu compatriota, está zerada quanto a medalhas olímpicas, são frequentes quando se trata de Brasil em Jogos Olímpicos.
A “bronca” que fica, porém, não é voltar sem medalha, afinal o erro para qualquer atleta é legítimo. O que talvez seja imperdoável é nem ao menos tentar.
O lema, logo, volta à tona nesse caso; é preciso aproveitar as chances que as são concedidas nas Olimpíadas.No entanto, a maior saltadora de vara do Brasil saiu do protocolo e fez exatamante ao contrário.
O lema, logo, volta à tona nesse caso; é preciso aproveitar as chances que as são concedidas nas Olimpíadas.No entanto, a maior saltadora de vara do Brasil saiu do protocolo e fez exatamante ao contrário.
Em Londres, Murer se deu ao luxo de não saltar em sua última tentativa, alegando uma ventania demasiadamente forte, o que, segundo ela, poderia vir a causar lesões e comprometer o seu rendimento durante o ano. O resultado? Eliminação precoce, sem chegar sequer as 12 finalistas, desperdiçando talento e como consequência vendo sua dignidade ser jogada fora. Dignidade, aliás, que foi construída através de um trabalho duro e treinamentos sem a estrutura adequada para a prática.
Se o Brasil vai minimamente bem nas Olimpíadas, é resultado muito mais do esforço próprio de cada atleta e seus treinadores do que pela estrutura esportiva do país. Enquanto muitos atletas de diversas modalidades têm que bancar os seus próprios utensílios e viagens, Neymar e companhia recebem 3 milhões de reais por mês. O resultado, porém, não foi muito distinto dos demais: mesmo com tudo que se é preciso, a seleção brasileira de futebol fracassou e acabou com o segundo lugar.Prata, para o futebol que há tanto tempo almeja o ouro, foi muito pouco.
Presume-se que dinheiro resolve a vida de qualquer atleta.Verdade que a parte financeira para o resto da vida está garantida, mas quanto ao resultado não é essencial para a vitória; quando o atleta realmente se doa e se dedica – fora algumas inconveniências de competição -, o resultado será o melhor possível. E não há prova mais digna do que os atletas paralímpicos. Alguns cegos, outros sem braço, sem perna e alguns até com o movimento do corpo inteiro comprometido. Mas mesmo com todas as adversidades possíveis, estão lá disputando uma competição de altíssimo nível e mais importante do que tudo, honram a pátria.
Olimpíadas x Paralimpíadas
Se nos Jogos Olímpicos o primeiro dia foi sensacional, nas Paralimpíadas não deixou de ser diferente.As mesmas 3 medalhas foram conquistadas( uma de ouro, uma de prata e uma de bronze). Porém o que fez os atletas paralímpicos se diferenciarem dos considerados “normais” foi o final no quadro de medalhas: foram garantidas ao todo 43 premiações, contra singelas 17 no Brasil olímpico. Só Daniel Dias e André Brasil, ambos nadadores, trouxeram ao Brasil 12 condecorações .Além dos dois, a maior surpresa se deu pela vitória de Alan Fonteles em cima de Oscar Pistorius, o primeiro biamputado a disputar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos simultaneamente.Vindo de família humilde e sem as duas pernas desde criança, Fonteles se viu obrigado a correr a maior parte da infância com próteses de madeira, sem o apoio necessário.Mas garante que isso está mudando. “Em 2008 recebi o meu primeiro patrocínio.Desde então as coisas só vem melhorando, a estrutura está se adequando e tenho certeza que a partir de 2016 vai ficar melhor ainda”, afirmou Alan, com exclusividade, para o REDONDA.
A comparação entre o Brasil nas duas edições, porém, não permite uma conclusão de fato.Mas existe uma verdade e há de ser dita: os atletas paralímpicos nos dão a impressão de honrar mais a nação. Desde as suas dificuldades até a chegada do momento de definição, da competição, exibem mostra de seu valores, independente se há ou não alguma deficiência que possa lhes comprometerem. Alan garante que não: “O que eu posso afirmar é que, assim como nós, os atletas olímpicos buscam o seu melhor.Não sei dizer exatamente também o por quê do Brasil paralímpico trazer mais resultados, mas não tenho dúvida de que estão lá para trazer medalhas.”
A ideia é contraditória: embora o Brasil vá muito bem em Paralimpíadas, certamente não estará em um bom ranking se o assunto a ser tratado é o apoio aos deficientes no cotidiano de nossas vidas.O velocista brasileiro diz que a estrutura está melhor que antigamente e só tende a melhorar.O que não justifica também o desempenho dos Estados Unidos, em um ranking com certeza muito maior no apoio, relativo aos cuidados com deficientes físicos, porém apenas uma colocação acima do Brasil no quadro final de medalhas. O que talvez possa explicar é a ajuda ao esporte paralímpico e não aos deficientes em si.
E quando perguntado se devíamos sentir pena de atletas paralímpicos, Alan não hesitou: “O esporte paralímpico é um esporte de honra.Somos atletas profissionais, treinamos e nos dedicamos muito em busca de nossos objetivos, e não queremos ser tratados como coitados.”
Mas sejamos honestos: há de se sentir pena a quem traz 43 medalhas ao nosso país tão pobre em desenvolvimento?
Mas sejamos honestos: há de se sentir pena a quem traz 43 medalhas ao nosso país tão pobre em desenvolvimento?
Olimpíadas Paral impíadas
23° lugar 7° lugar
17 medalhas 43 medalhas
3 de ouro 21 de ouro
5 de prata 14 de prata
9 de bronze 8 de bronze
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