A elite branca é maioria, mas não é única nos protestos contra Dilma. O que acontece? |
A direita surge como um caminho. É essa a questão central da preocupante situação do país.
Duzentas mil pessoas na rua - ou seria um milhão, segundo a PM? - não é pouca coisa e demonstra que algo está errado. É óbvio que a elite branca que tem nojo de pobre andando de avião está presente e lidera os movimentos. Mas minimizar o momento como uma "revolta dos coxinhas" é erro grave.
Analisando o restante que não faz parte do pessoal que vomita ódio sobre a esquerda - porque, esses sim, são caminhos sem volta -, entendemos que a raiz é a despolitização. Ainda que não se tenha uma preferência por partido, ainda que pouco entenda-se de política econômica, milhares de pessoas nas ruas pintadas de verde e amarelo mobiliza qualquer um. Emociona uma classe média decadente que está sendo atingida pela crise, incentiva aqueles que estão desacreditados na política brasileira e dentro do senso-comum da nação corrupta.
A imprensa impulsiona? Sem dúvida. Ela manda, desmanda, faz o que quer. Mas Lula foi eleito duas vezes e Dilma outras duas. Contra a imprensa. Fica nítido, portanto, que o sentimento é de esgotamento. Esgotamento da corrupção, do sistema - e aqui encaixa-se também o complexo de vira-latas que Nelson Rodrigues utilizou para descrever o brasileiro.
A solução, de uma maneira simplória: diálogo, gente na rua, Dilma na TV. Abrindo o jogo, retrucando acusações como Haddad fez em sua entrevista para a rádio Jovem Pan. Não entendo porque as esferas governamentais distanciam-se tanto da população, mesmo sabendo que isso é motor do processo da generalização.
Na atual conjuntura, surge um paradoxo interessante. Na sexta, 13, manifestação daqueles que, no contexto, escolheram ficar do lado de Dilma e que são críticos à política hoje aplicada. Dois dias depois, protesto contra o governo, feita por gente que deveria ser, em tese, favorável à nova política econômica implantada. Aqui, vale ressaltar, refiro-me à classe dominante e não a que incorpora o movimento por estar seguindo a onda.
A direita reacionária composta pela gente diferenciada jamais mudará seu discurso de ódio a um partido de esquerda, por mais liberal que seja a sua política econômica. Assim, o duelo, como nas eleições, é para resgatar aqueles que, um dia, já votaram no PT. E para isso, repito: diálogo.
É necessário que insista-se na reforma política - a verdadeira, não a do PMDB -, mostrando que ela é a solução para reformas estruturais que o brasileiro tanto exige. Com a "Operação Lava Jato" a pleno vapor, existe melhor momento para deixar claro que o financiamento privado é causa da corrupção?
Mesmo entendendo que manifestações são legítimas e fazem bem à democracia, um ponto mostra-se inquestionável: 54 milhões de votos não podem ser jogados no lixo. Parece que não, mas a maioria dos eleitores brasileiros votou em Dilma Rousseff. Ignorar isso sem base alguma é golpismo, é rememorar diversos exemplos históricos nos quais houve tragédias sem iguais para a democracia. Cito Karl Marx: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa".
Existe uma tecla a ser batida: diálogo, sempre; golpismo sem fundamento, nunca. E para a esquerda: reflexão, auto-crítica, gente nas ruas para defender a democracia e um governo que já fez muito bem para a população de baixa renda.